Tuesday, September 14, 2004

32ª Parábola – A Escolha dos Lugares

Olá meus queridos irmãos do Geema,
Após este afastamento de um mês, retorno ao nosso Grupo e fico feliz em verificar que já somos 136 pessoas irmanadas no propósito de estudar e refletir sobre os ensinamentos espíritas.
Meus irmãos, o Espiritismo não precisa de nós; nós, sim, precisamos dele. O Espiritismo não é mais uma religião ou uma mera filosofia. Ele não exige nossa freqüência semanal, nossa participação em ritos ou sacramentos, o cumprimento de obrigações ou penitências. No entanto, ele requer um esforço maior que todas as peregrinações aos lugares ditos sagrados, a todas as penitências exteriores. O Espiritismo exige a nossa reforma interior, o nosso empenho em estudar (não apenas ler) os seus fundamentos, a prática paralela à teoria. Infelizmente, muitos espíritas não conseguem reconhecer a grandeza e a profundidade do Espiritismo. É comum, e triste, ouvir as pessoas dizerem, geralmente, quando da eclosão da mediunidade: “ah, eu não posso me dedicar agora porque eu tenho que me casar, estudar, ganhar a vida, etc. primeiro.” Ou seja, o aspecto espiritual da existência, para essas pessoas, possui significado apenas secundário, desempenha papel coadjuvante, não essencial, prescindível.
Outro aspecto geralmente esquecido é que o Espiritismo não se restringe à comunicação com os Espíritos, à busca de nossas personalidades anteriores, ao brilho de sua faceta científica. O Espiritismo, em sua verdadeira essência, significa aplicação ampla e irrestrita do Evangelho de Jesus. Quem bate às portas do Espiritismo à caça de conhecimentos não disponíveis ao vulgo, esperando algum tipo de “iniciação” exotérica ou se prendendo apenas aos ângulos científicos e filosóficos do Espiritismo acaba por não compreender o alcance e o valor da Doutrina Espírita. O objetivo primacial do Espiritismo é o aperfeiçoamento moral, a evolução espiritual dos que lhe seguem os fundamentos com sinceridade e com boa vontade.
Infelizes aqueles que buscam no Espiritismo um meio de elevação material, de projeção, de privilégios. Seguem, infelizmente, a trilha sinuosa do engano. Trilha essa utilizada, ainda, por aqueles que “inventam” rituais, exigem roupas especiais para as atividades, adotam procedimentos, criam superstições e procuram aterrar os simples e humildes que lhes batem às portas.
Meus irmãos do Geema, busquemos conhecer e praticar o Espiritismo. Não com vistas a melhorar nossa sogra, nosso marido ou esposa ou nossos filhos, mas objetivando humilde e sinceramente a nossa própria modificação. É preciso corrigir nossas inclinações inferiores, é preciso conhecer a natureza de nossos sentimentos, é preciso querer melhorar. Quem se acha correto, bom e perfeito, infelizmente, é um orgulhoso, está se enganando. A premissa é simples: está encarnado aqui? Não é santo. Se for um evoluído realmente, ele não se achará perfeito. Todos temos as montanhas à nossa frente por escalar.
Que possamos meditar, estudar com afinco, estabelecendo rotinas diárias de estudo, a começar pela Codificação de Kardec e que nos lembremos sempre da caridade (a que dá e a que ama), como a compreendia Jesus: Benevolência para com TODOS, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas (O Livro dos Espíritos, 886).
Retomamos, agora, o estudo das parábolas de Jesus. Estamos na de número 32. Para aqueles que chegaram ao grupo no mês de agosto, o nosso estudo consiste em enviarmos a parábola e todos podem e devem expor o seu entendimento acerca da parábola ou, mesmo, apresentar um ou outro questionamento, para que todos possamos tentar responder.
Muita paz,
Frei Paulus

32ª Parábola – A Escolha dos Lugares
Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes esta parábola:
Quando por alguém fores convidado às bodas, não te reclines no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu; e vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o último lugar.
Mas, quando fores convidado, vai e reclina-te no último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante de todos os que estiverem contigo à mesa.
Porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.
Lucas 14, 8-11




Irmãos do Geema,
A mensagem que “salta aos olhos” nesta parábola é, sem sombra de dúvida, a da humildade.
As pessoas têm confundido humildade com ingenuidade, com servilismo, com falta de auto-estima, enfim, associam-na com fraqueza de caráter, com pusilanimidade, covardia moral mesmo. Humildade é justamente o contrário de tudo isso.
Quando nos preparamos para a reencarnação, há todo um preparo no Plano Espiritual. Somos apresentados à oportunidade de retorno ao Plano Físico com grande alegria e expectativa. Não somos “lançados” aqui na matéria ao “Deus-dará”. Existem grandes objetivos permeando esse retorno. Há uma finalidade maior que nos é de certa forma indevassável, enquanto estamos mergulhados na carne, mas que é muito nítida quando estamos nas fases preparatórias ou, mesmo, nos momentos em que nos entregamos ao sono do corpo físico e o Espírito, que nunca necessita de repouso, se retempera junto aos que nos guiam e ajudam em nossa tarefa de reparação e de reequilíbrio.
Mas fixemo-nos nessa fase preparatória. Espíritos a caminho da luz, não nos desfazemos das conquistas intelectuais, artísticas e morais que conseguimos aquilatar nas diferentes personalidades que animamos. De igual forma, os vícios, as dificuldades e as inclinações menos felizes não se extirpam a um “passe de mágica”. Assim, quando chegamos ao berço, porta de entrada do mundo material, o Espírito traz consigo os seus patrimônios em forma de valores, de tendências, de aspirações. Além disso, há todo um conjunto de viciações ou, quando menos, de inclinações negativas.
Pois bem, quando consciente da transitoriedade de mais uma forma, da fugacidade de mais um “papel” a desempenhar ou de um personagem a animar, o Espírito não se distancia da sua verdadeira essência. Isto é, ele se reconhece uma criatura necessitada de aperfeiçoamento, sabe de sua posição na escala da vida e, principalmente, identifica e aceita a mão de Deus a lhe guiar em todos os momentos de sua passageira romagem terrestre. Isto é humildade.
O contrário desse posicionamento é quando o Espírito, sem se reconhecer como tal, sem identificar a transitoriedade da forma que reveste, abandona suas tendências naturais e assume um papel de tentar agradar às exigências sociais. Age, portanto, em desacordo com a sua verdadeira essência. Eis o caso do orgulhoso, do vaidoso, do invejoso, do arrogante. Todos esses vivem em prol de uma imagem que querem, desesperadamente, projetar. Fruto de uma insegurança diante da vida e, pior, de uma ignorância dos verdadeiros objetivos da existência.
Eis porque Jesus coloca a humildade como sendo a virtude por excelência. O humilde – notem que não estamos falando do servil, do ingênuo ou do inseguro – é, antes de tudo, aquele que adquire a sabedoria de reconhecer seu papel no Universo. Ele não se julga maior nem menor do que ninguém. Ele não se entretém com quimeras. Ciente de suas deficiências, ele busca, a cada dia, superar essas dificuldades. Ele quer se tornar melhor do que si mesmo e não melhor do que os outros.
Observemos exemplos de pessoas humildes. Madre Teresa de Calcutá, quando ganhou o Prêmio Nobel da Paz, em 1979, solicitou, humildemente, que em vez de ser homenageada com um banquete, como era e é o costume, o dinheiro que cada convidado iria gastar com o jantar (250 dólares) fosse repassado a ela. Por ser pessoa respeitada por todos, os convidados aceitaram doar-lhe o dinheiro e não participaram do jantar, que foi cancelado. Um ano depois desse fato, madre Teresa escreveu uma carta aos organizadores da premiação dizendo: “hoje, exatamente um ano depois da premiação, o dinheiro que eu trouxe acabou. Durante um ano, 400 pessoas se alimentaram quatro vezes ao dia com o dinheiro que teria sido gasto no banquete daquela noite.”
Imaginemos o que teria feito uma pessoa orgulhosa. Com certeza ela teria preferido o banquete, que realçaria a sua posição de destaque...
Mas voltemos à parábola, para concluirmos. Jesus se refere à humildade que devemos possuir em não nos julgarmos “salvos” só porque pertencemos a esta ou aquela religião ou filosofia. Eis o caso de muitos que olham com desdém os que não pensam como eles e, com isso, nada mais fazem que se afastar da auto-iluminação. Quando agem assim, são como os convidados que tomam os primeiros lugares e vindo o que convidou (Jesus) solicita aqueles lugares porque chegaram outros convidados mais importantes. Reflitam sobre a parábola com este enfoque...
Muita paz,
Frei Paulus

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