37ª Parábola - O Filho Pródigo
Meus irmãos,
A idéia primeira da parábola é o amor de Deus para com todos os seus filhos, indistintamente.
Jesus nos afirmou: “nenhuma ovelha se perderá.” Se é assim, não haverá outra diferença entre nós senão o momento em que retornaremos à Casa do Pai: uns antes, outros vão demorar um pouco mais...
Mas consideremos as figuras da parábola.
O filho pródigo é a humanidade que, recebendo parte da potência divina, isto é, a razão, o livre-arbítrio, a consciência de si mesma, inicia a sua jornada evolutiva pelos caminhos da dor e do sofrimento...
Dono da faculdade de pensar, o homem ainda não compreende o uso que dela deve fazer. Diz a parábola que o filho mais moço passou a gastar dissolutamente os bens recebidos do Pai. Isto é, o homem não soube usar o raciocínio, a liberdade de escolher, a inteligência superior e, por isso, encontrou a privação, o vazio, o sofrimento.
Tendo despendido os recursos que recebera, o homem passa a disputar os alimentos com os porcos. Por alimentos, devem ser entendidos aqui todos os valores que esposamos e, por porcos, aquelas pessoas que não têm a mínima noção de espiritualidade, que ainda chafurdam no lamaçal das paixões e dos vícios, alheias aos valores elevados da existência.
A Lei de Deus é perfeita. Não se fala em castigo, em punição, em vingança muito menos. A Lei busca o infrator por perfeito mecanismo de reação que corresponde à ação. Temos a liberdade de acionar o arco e lançar a flecha. No entanto, tão logo é arremetida, a flecha atingirá seu alvo irremediavelmente. Da mesma forma, temos o livre-arbítrio, a liberdade de escolher o caminho que desejamos trilhar, mas, uma vez escolhido o caminho deveremos aceitar as conseqüências...
Dentre os que disputam os alimentos com os porcos, eis que o filho pródigo, que gastou indevidamente os talentos recebidos do Pai, se levanta e recorda com pesar da fartura da casa paterna, isto é, as faculdades psíquicas equilibradas que desenvolvemos com a prática do bem são infinitamente superiores a quaisquer gloríolas mundanas, a quaisquer apetites grosseiros, a quaisquer prazeres efêmeros. Chega um momento em que nos cansamos de disputar os valores materiais, a fama, o prestígio e aspiramos a algo superior. Advém-nos a melancolia, que pode ser traduzida como a verdadeira saudade do lar paterno. E, aí, nos decidimos por retornar aos valores espirituais.
O Pai nos recebe a todos com os braços abertos e ordena a seus servos que preparem um banquete para a celebração de nossa volta. Assim é o Plano Espiritual quando um de seus tutelados consegue superar as amarras materiais e se auto-iluminar...
Mas eis que encontramos a figura do filho mais velho, egoísta e ingrato. É preciso notar que o Pai dividiu os bens igualmente entre os dois filhos, isto é, também o filho mais velho recebeu sua parte na herança. Mas ele guardou (talvez enterrou) seus talentos e, vendo a festa por conta do retorno de seu irmão, em vez de se alegrar tornou-se amargo e reclamou com o Pai.
O filho mais velho somos todos nós que nos achamos cumpridores dos deveres de consciência, mas que não aceitamos que os “infiéis” sejam acolhidos pela bondade divina. Também é o caso dos irmãos que se vêem únicos procuradores de Jesus na Terra, que não aceitam que Jesus possa ser adorado, procurado e seguido em outra religião que não a sua. Pobres ingratos e egoístas!
Infelizmente, meus irmãos, a hipocrisia que nos caracteriza a maioria faz com que estejamos sendo como o irmão mais velho, aquele que permanece cumpridor dos deveres religiosos, mas que segue sendo seco, intolerante e sem amor. Gostamos de nos julgar os conhecedores da verdade, mas por algum motivo essa verdade que possuímos ainda não nos libertou. Criticamos e condenamos, julgamos e ofendemos, mas ainda não aprendemos a estender a mão ao irmão caído.
Infelizmente, ainda não aceitamos o fato de que somos uma grande família. Somos todos irmãos e as divisões que criamos contrariam frontalmente o ensinamento do “amai-vos uns aos outros” ou o do “meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem...” Fugindo de ser o filho pródigo, temos sido o filho mais velho, nos dizeres de Emmanuel, correto, mas egoísta, remoendo censura e reclamação.
Muita paz a todos!
Frei Paulus
Sobre os comentários da Sônia:
Minha irmã,
Apesar de buscarmos o conhecimento, de estudarmos e nos filiarmos aos movimentos assistenciais, de realizarmos semanalmente o Estudo do Evangelho no Lar, de tentarmos ser verdadeiros espíritas, ainda nos pegamos derrapando nas velhas curvas do caminho. Um irmão nosso, lendo o livro As Dores da Alma (Hammed), nos dizia: não há uma “dor” sequer que eu não tenha (crueldade, orgulho, irresponsabilidade, crítica, ilusão, medo, preocupação, solidão, culpa, mágoa, egoísmo, baixa estima, vício, rigidez, ansiedade, perda, insegurança, repressão, depressão, dependência e inveja). Parece exagero do irmão, no entanto, se analisarmos detidamente, verificaremos que também nós ainda não nos desvencilhamos por completo dessas e de outras “pequenas” dores.
Reconhecer nossas falhas, escrevia eu a esse irmão que também nos lê agora, será passo decisivo para que nos aperfeiçoemos. Quando nos julgamos perfeitos é porque estamos nos iludindo e fugimos da realidade. Cheguei a brincar com ele, dizendo: encarcerados neste Carandiru, internados neste Juqueri ou matriculados neste imenso Cefet planetário não será de se esperar que nos consideremos os sentinelas da humanidade, os médicos das almas ou os professores da verdade. Somos, sim, espíritos que lutam por se auto-iluminar, por vencer as dificuldades, as imperfeições, por corrigir os erros do passado. O triste é que, mesmo nesta situação, ainda exigimos privilégios que não merecemos...
Mas vamos ao ponto que você mencionou: “A leitura dessa parábola me intrigava muito, pois eu achava que, então, o que valia era ser "ruim, desonesto", pois esse era quem seria reconhecido ! Confesso, humildemente, que mesmo depois de entender o verdadeiro significado da parábola ( ou achar que entendi ), é difícil perder esse ranço. Até mesmo porque vive-se cercado de "pessoas de bem" que só vivem julgando o comportamento alheio e é preciso ser bem forte para sustentar, contra tudo e contra todos, uma opinião diferente da maioria. Muitas vezes me pego com o pensamento de outrora e rapidamente tenho que me reequilibrar. É normal ser difícil assim?”
Realmente não é fácil. Estamos muito acostumados a toda uma ordem de idéias e não será do dia para a noite que modificaremos todo o nosso modo de sentir e pensar. Mas não é por isso que deixaremos de implantar em nós mesmos novos e mais salutares hábitos. Com relação aos irmãos que não aceitam nossa Doutrina, deveremos agir com eles da forma que gostaríamos que eles agissem para conosco.
Para entender com clareza a nossa porção “filho mais velho”, sugiro a leitura da mensagem de Emmanuel – Filho e Censor – à pág. 212 de Palavras de Vida Eterna. Se você não possuir o livro, diga-me que a digitarei pra você.
Muita paz,
Frei Paulus
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