Sunday, October 17, 2004

39ª Parábola - O Mau Rico e Lázaro

Meus irmãos,
A primeira interpretação é sempre a literal. É inevitável. A partir dela, fica clara a necessidade de ajudarmos os desvalidos, os mais necessitados, de valorizarmos os bens materiais e aplicá-los não só em nosso próprio proveito, mas o de distribuirmos suas possibilidades para os que têm menos que nós. Fora da caridade, não há salvação. Os irmãos do Geema já abordaram, com propriedade, esse aspecto da parábola. Poderemos, então, tanger outro ângulo que a parábola encerra.
A parábola não diz que o rico era mau e o pobre era bom. No entanto, o primeiro morre e vai para o inferno e o segundo, ao morrer, foi levado pelos anjos ao seio de Abraão. Se não tivermos a devida cautela, vamos internalizar que ser rico não é bom e que ser pobre é muito bom, quando poderemos encontrar ricos que se auto-iluminam e pobres que andam muito distantes da luz. Cuidado para não invertermos o entendimento.
A questão não é ser nem rico nem pobre. Isso quer dizer pouco para o Espírito imortal. São apenas circunstâncias que nos envolvem nesta passagem pela matéria. Ao longo de nossa jornada, já fomos tanto ricos quanto pobres e seremos outras inúmeras vezes as duas coisas. O que importa, realmente, é o conjunto de qualidades espirituais que já conseguimos amealhar.
Por quê, então, teria ido o rico para o inferno e o pobre para o céu?
Jesus estava alertando a todos aqueles que alcançam um certo conhecimento espiritual. Esses seriam os ricos. Era o caso do povo judeu. Eles se vestiam de "púrpura e linho e se banqueteavam com requinte", como o rico da parábola. No entanto, os povos não-judeus, que não tinham uma noção tão aperfeiçoada das verdades espirituais, os pobres, que se valiam das "migalhas" que caíam das mesas dos ricos, esses, eventualmente, poderiam possuir as qualidades que os levariam ao crescimento espiritual. É o caso da passagem que consta em Mateus 15, 21-28: "Ora, partindo Jesus dali, retirou-se para as regiões de Tiro e Sidom. E eis que uma mulher cananéia, provinda daquelas cercanias, clamava, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem compaixão de mim, que minha filha está horrivelmente endemoninhada. Contudo ele não lhe respondeu palavra. Chegando-se, pois, a ele os seus discípulos, rogavam-lhe, dizendo: Despede-a, porque vem clamando atrás de nós. Respondeu-lhes ele: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então veio ela e, adorando-o, disse: Senhor, socorre-me. Ele, porém, respondeu: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela disse: Sim, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos. Então respondeu Jesus, e disse-lhe: ó mulher, grande é a tua fé! seja-te feito como queres. E desde aquela hora sua filha ficou sã."
Agora podemos perceber porque o rico foi para o inferno e o pobre, para o seio de Abraão. Abraão é considerado o pai da fé, por meio dele nasceram três das principais religiões do mundo: o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo. Eis porque ele é citado e, por inferência, entendemos o papel da fé na nossa auto-iluminação.
A outra parte da parábola seria um prenúncio do que acontece nos dias de hoje. Os "mortos" vêm nos alertar para não irmos aos locais de tormento (a tortura imposta pela consciência culpada) e nem assim nos convencemos.
Há, ainda, outro ponto. A Doutrina Espírita oferece valiosa oportunidade de conhecimento acerca do mundo espiritual. Os que a estudam com afinco, que a encaram com seriedade, alcançam um tesouro espiritual incalculável. Esses se tornam verdadeiramente ricos. No entanto, se não souberem acolher os "Lázaros", pobres, estropiados, famélicos, que batem às suas portas em busca não só de pão material, mas principalmente espiritual, terão destino semelhante ao do rico da parábola. Essa riqueza não significará passaporte para a consciência em paz. É dessa forma que alguns espíritas poderão estranhar o fato de encontrarem alguns "Lázaros" em melhor condição espiritual do "outro lado".
Só a título de curiosidade, Lázaro, etimologicamente, significa "aquele a quem Deus ajuda". E perguntamos, como Deus ajuda senão por meio de Seus mensageiros? Não estará também aí uma pista do que devemos fazer? Se quisermos ser os mensageiros de Deus, que ajudemos a todos indistintamente. Dentre os que ajudarmos efetivamente estarão alguns que Deus colocou em nosso caminho, para que possamos materializar em amor o conhecimento espiritual que houvermos adquirido.
Muita paz a todos!
Frei Paulus

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